27 de março de 2020

QUARENTENA DÉCIMO QUINTO DIA

























Preparemos o aniversário da nossa quarentona do coração em pleno auge de quarentena. Se calhar é só o início. O M dedicou-se de alma e coração e todos os passos, como é seu costume, foram de entrega. minúcia, paciência e  escolha dedicada de todos os pormenores. há muito que não precisa de orientação, caminha sozinho nestes percursos hand made, com prazer. está pronto e fica aqui em primeira mão porque este espaço estava há muito adormecido e abandonado. não deve já estar ninguém do outro lado e o objetivo nunca foi aumentar partilhas mas registar os dias. nesta família talvez escasseiam mais pastilhas para a máquina da loiça do que papel higiénico. Avançamos para a terceira semana a todo o vapor e não usamos ainda supermercados. Ontem o pai fez um maravilhoso pão.

26 de março de 2020

QUARENTENA DÉCIMO QUARTO DIA
























segunda semana a terminar. dizem que abrimos a fase de mitigação. já ninguém controla quem contamina quem, onde, como e quando avança o contágio. o M voltou a ter dificuldades a adormecer, o V rói mais as unhas do que nunca, o X anda em piruetas no meio do que o envolve a crescer. há um feliz por fazer escola em casa, um a repensar que isto da escola em casa afinal tem o seu lado negativo e outro com os dois pratos da balança sempre em balanço porque quando se é pequenino se criam empatias com quem nos cuida durante algumas horas por dia. os dias tem tido mais ritmo mas muito menos sumo de partilha, afinal estamos sempre lá, na vida uns dos outros. tudo em suspenso. sugam-nos até ao limite e ficamos sempre a perder 3-2.

25 de março de 2020

QUARENTENA DÉCIMO TERCEIRO DIA
























ontem tentamos estruturar melhor os trabalhos. não correu mal. vamos cumprir os exercícios tradicionais mas cruzaremos com a introdução de novos paradigmas de estudo. somos capazes, nem todas as famílias o serão, aproveitemos as trocas de aprendizagens entre todos e entre as ferramentas disponíveis de saber, de cultura, de materiais, de criatividade e de tudo o mais que temos ao dispor. escola e família com oportunidade de se meterem na vida uma da outra como nunca e, numa família numerosa, um imperativo. os cumprimentos laborais andam no mesmo nível de toda a gestão e de todas as dimensões da vida. o tele trabalho fora de horas laborais. voltei aqui mas ainda não consegui voltar a uma série de outras coisas em que o eu esteja num outro nível. há mais eles, e os outros. a vida a acontecer e a mandar. há uma lista mental de ideias. um milhão de intenções mas domar meia dezena de seres vivos com vontades próprias e mil emoções à mistura é a mais exigente tarefa dos dias. ainda há chocolate, o mar parece um lago, o sol brilha, a vida lá fora suspensa como se o sol se tivesse apagado da pele. décimo quarto dia, permiti-mo-nos sair. muniram-se de bicicleta, skate e trotinete. a marginal tem fitas condicionar o estacionamento. esticaram-se na areia o sol deu-lhes alguns beijinhos na pele, não o suficiente para trazerem em vez de areia vitamina D. mas a areia é matéria moldável e o X parou a senti-la. a polícia interpelou-nos. as ordens são manter a circulação. não lhe dissemos que não tínhamos feito nenhuma saída há 14 dias nem para qualquer ida ao supermercado, temos o nosso próprio bunker onde repescamos munições. ainda há chocolate, o mar parece um lago, o sol brilha, a vida lá fora suspensa como se o sol se tivesse apagado da pele.

24 de março de 2020

QUARENTENA DÉCIMO SEGUNDO DIA
























andamos às apalpadelas a tentar construir rotinas que se mantém desrotinadas ao sabor de espetos que nos lançam de vários lados. lá fora está sol e, apesar da amplitude espacial, ainda não pacifiquei a ideia de que possamos passear cães e não filhos. entraremos na segunda semana adentro num processo de desaceleração relativa por não querer que se entreguem  permanentemente a ecrãs. as férias serão uma espécie de dias em contínuo, espero, com novos ritmos encontrados neste novo registo. o m pedia várias vezes ausências da face aborrecida da escola, matérias repetitivas e pouco estimulantes mas, agora em modo livre, ainda não se libertou num voo solto pela criatividade. o v precisa de ar, pede-o muitas vezes e gosta bastante da vida com ecrãs mas a sua costela mais pragmática funciona bem nas aulas de piano à distância. o x precisa de inputs para largar a caixa que carrega vezes demais ao colo que já manuseia com destreza e de forma autónoma, um perigo. quando lhe abrimos o mundo obviamente adere mas precisa que o conduzam nessa descoberta porque se habituou a caminhar entre muita gente a precisar de coisas na sua estrutura familiar. ontem quando assistiu à canção dos bons dias da sua professora, sentiu-se intimidade e estranho. é o que menos percebe do que se passa. o que quer que se passe não tem dias contados e 2020 irá ser sem dúvida um dos anos mais marcantes da história desta geração. tocaremos esta música com os instrumentos disponíveis a ritmos antagónicos e nem sempre em composições perfeitas. um dia de cada vez. uma hora de cada vez, cada minuto, cada segundo a apalpar um futuro incerto.

23 de março de 2020

QUARENTENA DÉCIMO PRIMEIRO DIA










acabamos o projeto a que nos propomos. usando a matéria de estudo do meio de terceiro ano e envolver todos. os conceitos estão apreendidos e sem fichas. desenhamos animais usando sombras e assistimos aos vídeos enviados pelas professoras dos mais pequenos.  li-lhes dois capítulos do diário de anne frank enquanto se esticaram junto da janela numa espécie de banhos de bacia em que raios de sol a substituem. almoçamos as sobras de domingo, um frango caseiro com massa. mante-mo-nos a usar os recursos disponíveis e hoje fizemos chapati com chocolate para o lanche, uma bela oportunidade para o pequeno esticar a massa e espalhar farinha por todos os lados. o v aspirou a sala mas ha muitas tarefas por fazer. o pequeno tem usado tempo de mais com ecrã mas o tempo de ecrãs é sempre demais seja ele qual for. relaxo, desvalorizo.

22 de março de 2020

QUARENTENA DÉCIMO DIA
























fim de semana entregues a ecrãs. quebra estratégica. mete-mo-nos todos no carro com abandono do habitáculo apenas e só por um adulto a deixar uma caixa de perecíveis na bisavó de noventa anos. quando liguei a dar notícia da caixa foi uma espécie de de natal. chamou-me anjo. outra paragem estratégica para o ÁFRICA MINHA, extenso para aguentar o V e o X. acrescentamos uma espécie de ginástica no arrancar do fim de semana. meia hora de leitura no aconchego de uns raios de sol que entravam pela janela, este nível de jogo acontece quase sempre na base da negociação e / ou imposição mas que seja. muito pouco tele trabalho batido entre um frango caseiro e um crumble. de manha fiz alongamentos e dancei em simultâneo enquanto conversava com a desarrumação da cozinha. aproveitamos recursos, tudo é gerido ao detalhe e a cozinha tornou-se um laboratório permanente, não é nova a gestão da dinâmica de, no mínimo, quatro refeições por dia. o nosso âmago acusa tensão e o pequenino baralhação com grau elevado de presença parental. tentamos ingerir doses pequenas de noticiários para que o tema e as palavras repetidas à exaustão não lhes martelem na cabeça e façam uma espécie de voo rasante temporário ao tema. as alterações de rotina, a presença de muita gestão familiar e os inputs externos são matéria suficiente para que sintam que o momento será marcante na nossa história de vida. o pequeno disse que gostava muito da professora, acusa sinais de saudades, mas gosta muito do pai e da mãe. começará a segunda semana de desafios. ainda não estamos em condições de alterar o paradigma escolar e laboral mas caminhamos a passos largos. em uma semana entram de "férias" seja lá o que isso for e tenha lá que sentido tiver. o diário de anne frank, agora que a diretora de turma do M lhes impôs 4 linhas por dia num diário pessoal, faz todo o sentido. a introduzir fora do horário noturno para não lhes moldar os sonhos.

19 de março de 2020

QUARENTENA NONO DIA


























Abrir as portadas, as janelas, vestir, passo a vida em ordens de comando. para que nos vamos vestir se vamos ficar em casa. é o nono dia. já não sei em que dia fizemos o que. tentei gerir o caos e propus um projeto que os envolvesse a todos, plasticina caseira. um modelo 3d com matéria de estudo do meio de terceiro ano. rio, afluente, planalto, montanha, encosta, ilha, cabo, planície, etc. entretive o pequeno a congelar mamíferos, repteis e peixes em separado.

18 de março de 2020

QUARENTENA - QUINTO DIA
























Consegui trabalhar meia hora entre sopas e coisas. Chamam mãe muitas vezes e a partir de muitos sítios. Não os tenho pressionado com trabalho escolar . Andamos entre uma espécie de férias com uma ficha atrás. Não há mãos a medir para tanta gestão de grupos what’s up, emails da escola. moddle, etc . Nunca estivemos tão agarrados a máquinas e longe da vida. Passamos a vida na troca vazia . Descobri que a minha visão passou a outro nível a quarentena revelou a quarentona em mim, isso e a vista cansada. começo a desfocar a vida, esta vida. Há uma cárie e um lábio aberto. 5 dias em casa e tenho inveja de quem vai passear o cão. Porque sinto que devia ir passear o filhos. Dar lhes ar que também é uma necessidade básica . Vivo em processo pingue-pongue entre a versão hipocondríaca e a versão cavaleiro sem saber bem onde me posicionar . Eles andam para aqui meios perdidos , meios desorientados , a querer dar se à inércia . Não é um mundo novo, tenho dejá vues constantes, já passei por processo semelhante num longínquo inverno. Eram dois e ninguém me impedia de sair. Mas a gestão de necessidades e rotinas de duas crianças entregues unicamente a mim traz-me constantemente memórias. 

o interior do miolo do que fica no meio de tudo



usam as mesmas mochilas desde sempre, não concebemos uma a cada ano. gerimos a otimização de tudo incluindo roupas e rotatividades. apuramos técnicas de fazer malas e arrumar roupa que já não largamos. fazemos rolinhos para tudo que encaixam nas paletas que construímos. mas há um elemento desligado, desfocado, não pede mundos nem fundos, aproveita os materiais até se reduzirem ao centímetro mas deixa tudo num estado lastimoso. há na natureza naturezas diferentes.

17 de março de 2020

QUARENTENA-TERCEIRO DIA





















Plano de intervenção instalado. Alguma tensão ao rubro. Pingue-pongue entre o cumprimento das orientações e a alteração quando convém a todas as partes para o bem e para o mal seja lá o que isso for. Estamos todos baralhados. Cheios de intenções a e por cumprir.

15 de março de 2020

QUARENTENA-SEGUNDA DIA

























Fizeram um ringue com fita cola e almofadas a forrar elementos de perigo. Extravasaram energia acumulada mas ainda só passaram dois dias. Decidiram instalar como rotina o sobe e desce dos 5 pisos a que estamos confinados. Estivemos uma meia dezena entre este cenário e filmes e séries e sofá e arena. Rematamos o dia com um esboço da nossa escola em casa em vias de começar. 

14 de março de 2020

QUARENTENA-PRIMEIRO DIA



























Dia 1 é uma maneira de dizer porque entramos mais para dentro numa sexta feira, antes de ser decretado o encerramento das escolas. Por isso o último dia da semana já se fez entre paredes. Deixa-mo-nos estar entregues à ausência de rotina depois de os ter forçado a aceitar ir a uma praia deserta, a nossa praia secreta, a 40 quilómetros de distância. Improvisamos sandes e fizemos pic nic isolados. Mas as decisões pendentes, pressões eminentes, tensões resistentes tinham alarmes ativos, demos- lhes 1 hora a rebolar nas dunas e a recolher godos e pedras para os dias de clausura. Recolhe-mo-nos com os bolsos cheios de vitamina D e de areia. 

eu vista por mim

eu vista por mim
novembro1982