27 de maio de 2019

retalhos de rotinas


as nossas rotinas nunca estagnaram. cumprimos o calendário que a vida nos permite. voámos com asas a sério. damos tiros nos pés. damos tiros para o ar. carregamos filhos e cadilhos e caixotes às costas anos a fio. fazemos rodar rotinas e desregulamos os dias. queixa-mo-nos dos meninos mas sabemos que no fundo são uns bons projetos de gente a crescer. encaixamos tudo, ajusta-mo-nos, apertamos daqui alargamos dali, multiplicamos rotinas dividimos trabalhos. fazemos acontecer: memórias, refeições especiais, atividades, conversas e bocadinhos de serões com eles, sem eles, connosco sem nós, sem um, sem o outro, com tudo. a manta de retalhos cresce colorida. as memórias são quadrados cosidos pousados na velhice. 

22 de maio de 2019

a primeira ela da nossa tribo


forcei um ajuntamento estratégico. com segundas intenções. há sempre a intenção de os por fora da porta e dar-lhes memórias de infância com primos e primas. havia uma prima nova a estrear e a primavera estava em força. atirei-lhes o verde que temos à porta e eles fizeram o que é suposto na infância se fazer.

15 de maio de 2019

há o polvo e há o papá



















o pai tem pernas, olhos e boca, parece estar sempre sorridente. a mãe tem muitos braços e pernas e membros. há um polvo em mim.

10 de maio de 2019

não dar ponto sem nó

tivemos férias espartilhadas, tiveram férias encaixados em afazeres. os pais trabalham e os filhos trabalham a sua infância. trabalhar a infância é construir memórias para além dos espartilhos da escola. a mãe tenta sempre libertá-los. lançá-los à rua, ao vento, às não rotinas. vai-lhes enfiando coisas na frente que lhes invadam os olhos, o espírito e as horas a que se poderão amarrar a um ecrã. tudo conta na soma da subtração. tudo vale para invadir os sentidos. cada vez que cosemos um embrulho para presente ou unimos pontos que acabam em mil, não estamos a dar ponto sem nó.

4 de maio de 2019

as feras

quando nos começamos a sentir engolidos tento lançar-nos às feras.

2 de maio de 2019

eles jogam, eles costuram, eles dobam

vou achar sempre que usam os telemóveis demais. enquanto fazem pompons e desfazem costuras no parque expandem soft skills que os gadgets nunca lhes darão. 

1 de maio de 2019

do que nos une


a minha riqueza está na ausência e na presença de um anel. não fomos a lado nenhum. há sempre um furo no anel que nos fura a" tradicionalidade" dos programas estipulados se é que posso inventar assim umas palavras a traduzir coisas patetas. íamos sem eles, depois com eles. não fomos a lado nenhum. mas é esta a vida que gostamos de viver. esta plasticina que nos cola a família que construímos. este barro duro que molhado se molda. esta matéria que sendo a mesma se adapta e sofre processos transformativos. somos água fresca, pedra sólida e gás oxigenado. sabemos que todos os dias comemoramos a vida.

eu vista por mim

eu vista por mim
novembro1982