11 de outubro de 2018

a place that smell like home


entrou naquela oficina e sentiu o perfume do serrim invadir-lhe todas as entranhas . um odor que lhe fez vibrar todas as cordas lacrimais. respirou mais profundamente e confirmou mais uma vez que se tem de conter. que lhe faltam para sempre os dias, todos os dias, em que não teve aquele avô. que sente saudade dos dias que não teve. como imaginar dias que não existiram, não sabe. sabe que lhe farão para sempre falta dias que não existiram. esse vazio imaginado. essa riqueza perdida no tempo. às vezes, quando o perfume se lhe cruza o olfato volta a desejar entrar naquela oficina cheia de penumbras. imagina-se sentada no canto esquerdo da entrada cheia de sobras de madeira nas mãos e  mais qualquer coisa de que não se lembra porque não se lembra de lá ter nenhuma barriguita para brincar, nem tédio. deixava sempre o tédio na caixa textil. muitas vezes fez rodar o ferro do torno onde amiúde brincava porque o avô tinha receios que a menina estava rodeada de um batalhão de ferramentas e máquinas para níveis altos de lesão. uma vez a menina fez uma caixa, tinha dez anos e foi imediatamente antes de ter o acidente da sua vida. as idas ficaram meias suspensas nos anos que se seguiram e ninguém sabia que a caixa vazia no peito aumentava cheia de vazio até hoje. o cheiro do serrim é um pó mágico que lhe ativa uns brilhos na caixa vazia que traz no peito. e sabe que as memórias ficam lá num cantinho profundo do hardware. já tem mais 3 décadas em cima mas não escolhemos o que nos fica gravado mesmo que seja no conjunto vivido as mais pequeninas  rotinas que tenhamos usufruído.

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eu vista por mim

eu vista por mim
novembro1982