21 de março de 2015

do que nos interessa a nós































às vezes esqueço-me que és pequenino mas lembro-me sempre que não preciso de ir para o laboratório encher tubos de ensaio. sei que basta mais uma milésima grama nas misturas que já fiz para ser tudo novo e diferente. sinto que tudo pode correr bem sem tanta minúcia nas misturas. arrisco mais sem tanto pudor. já faço as misturas a olho e só garanto um ou outro ingrediente para o bolo crescer. não saltas etapas mas dás saltos em volta entre o teu estágio e o do teu próprio irmão. é uma presença muito constante e intensa a de um irmão. enquanto vou ao laboratório com o teu irmão, vais apanhando o que vai caindo, observas as misturas e chegas a provar alguns ingredientes porque a porta fica sempre escancarada para trás. entras, sais, experimentas e rejeitas sempre que queres. mais isto e mais aquilo do que o teu irmão fazia com a mesma idade e mais aqueloutro. tens muitas mais persistências, certezas e quereres mas preferes saber que o ninho está sempre ali por perto. és tão indirecto nos genes que precisaríamos de nos debruçar melhor nos detalhes e ver para além do aparente. herdaste os olhos do pai e o cabelo fino da mãe mas ninguém vê a minúcia em ti. ainda tens muito para nos mostrar de ti, vamos aquém do aperitivo e por isso te refiro sempre a doçura e o melaço que me trouxeste nesta segunda viagem da maternidade. é a maior novidade. a novidade dos beijos melosos e a das certezas difíceis de dobrar. és
menos manuseável. eras mais musical mas cresces e as variáveis moldam-te, um dia vemos se tens mais sementes inatas em ti. tento não abrir a gaveta das comparações e nem sempre me lembro de elimina-la de todo. não se comparam pessoas pequeninas sob pena de lhes toldar características e as fazer imergir em vez de emergirem. muito menos irmãos. nunca vos pus a fazer muitas escolhas porque sempre achei que se formam crianças a escolher por elas a dar-lhes referencias de escolhas para um dia lhes deixar o livre arbítrio inteiramente nas suas mãos. damo-vos opções em vez das escolhas. tu queres fazer escolhas e insistes sem desistir à primeira. do que te lembras é de uma vida em trânsito em volta do nosso porto seguro mas sentimos que as tuas ligações são as de quem nunca saiu de um ninho onde nos encontramos todos, todos os minutos juntos. conforta-me sabe-lo porque também "trabalho", neste emprego que a maternidade me trouxe, para isso. tens um olfacto apurado e directamente ligado a memórias de pessoas e sítios por onde passaste. tens uma memória bem exercitada, ligada aos sentidos e surpreendes-nos com pormenores do passado. sabes de consciência plena que tens pela frente diferentes desafios em novos estágios permitidos por quem tem mais idade e por consequência mais aptidões porque vais na primeira fila a observar as etapas seguintes. sabes bem que não podes viajar no elevador sozinho e nem podes ir a casa da titi sozinho mas o teu irmão pode. eu sou a tua mãe e tenho o direito de ter a certeza de onde vêm os teus caracóis. 

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eu vista por mim

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novembro1982