13 de novembro de 2023

eXtra boy





 











rudolf steiner terá dito que a vida rola em setênios. encerras o teu primeiro a navegar arrastado por muitos mundos diferentes à custa do ninho recheado que te recebeu. solidificas alicerces e raízes ramificadas num quarteto que te ampara e, às vezes,  interfere no campo das tuas explorações. entras em negociações como diplomata aprendiz. sabemos da tua escassez de exclusividade e das tuas estratégicas muletas que repiscas a cada manhã numa casa recheada de vivências e de objetos de mais infâncias antes da tua. puxas um ligeiro drama nos quereres por saberes do atrofiamento da disponibilidade parental na gestão do tempo e do espaço. fechas este ciclo tão teu e nós um outro ciclo tão pouco nosso. a cada setênio temos dado voltas à vida que nos trazem muitas vivências. um imbróglio de desrotinas  e um monte de novidades. no meio delas vieste safar-te à grande. dás mergulhos e saltos em camas elásticas em pequenos mortais, lês e safas te a escrever sem ninguém perceber que poderias ser o chamado condicional. espalhas-te em açúcar e em séries muito mais do que devias e esta culpa tento não carregar. sabes dos ciclos que tens pela frente, das conversas e negociações e vais-te aproximando e afastando do irmão que mais te convém já que há sempre mais um para além do pas de deux a que te associes. foi um dia em cheio encravado entre o dia real e o dia em que na verdade ias nascer já que te programamos sem nada programar. parabéns eXtra boy 

7 de fevereiro de 2023

teen third year

















há em ti essa seriedade que te invade desde que eras filho único. há em ti esse pensamento maturado, elaborado, lógico e cheio de hiperligações como quando deixaste em suspenso uma fila de pessoas num atividade em parkers piece. há em ti essa precaução de quem mede as decisões e que te faz proteger da retaguarda dos mortais. há em ti essa cautela de quem abre livros a 23º. há em ti o desejo de receber um caixote de tempo. nao sei até quando fugirás ligeiramente de beijos e amaços. há em ti uma silenciosa vontade que te leia os pensamentos ensarilhados. há em ti mais acrobacias do que melaço e muitas habilidades gravadas em ADN. há em ti minúcia e áreas que navegas sem esforço. não gostas de emendas, de rascunhos e de rasurado.  é na experimentação, no mundo, a ver o mundo, com todos os sentidos soltos que vais sugando ligações. oh quantas ligações e mundo há em ti. há em ti essa introspecção amiúde que te enriça pensamentos que depois te custam a sair. há em ti um mundo a desabrochar. e, não queremos saber dos étimos porque há muito mais coisas em nós do que as coisas que dizem de nós. parabéns a ti que nos fizeste nascer a (PA) (MA) E ternidade.

10 de janeiro de 2023

terceira pessoa do singular a sair da primeira














gosta de silêncio. o silêncio da-lhe fome e espaço. agora vê o ponto de fuga mais em fuga vê que gostava de estar cosigo. hoje quase nunca está cosigo e isso fá-la andar num fio equilibrista permanentemente a cair desequilibrada. quando ficava só cosigo conseguia encaixar-se melhor em si, as vezes só isso, noutras vezes, através de textos que não precisavam necessariamente de estar em livros podiam estar em canções ou até na própria escrita. Também cedo descobriu o journaling e uma espécie de efeitos positivos na organização do que somos, do que fizemos e do que pensamos para além do que já sabemos de nós .  não era no dote de conjugar palavras que se apoiava era tão só no despejar da espécie de mil coisas soltas que a habitavam. desemsarilhava-lhe pensamentos e relativizava-lhe os momentos fora do agora. as palavras saidas da cabeça fora dela era como arrumar a casa que nos desabita de nós. 

13 de novembro de 2022

meia dúzia da nossa meia dezena mais pequena


metemo-nos no avião e voltamos a fazer a viagem. aviões e viagens repetidas são parte do nosso this is us. ainda apertas o nariz para mergulhar ao teu lado. ainda arrastas "muletas" para todo o lado. andas sempre literalmente à caça de objetos novidade que te amparem uma espécie de bem estar social mas vais com tudo. vais com confiança. agarras a tua vida. e vais te safando no meio de tanta gente. queres três filhos na tua vida. ser professor de ginástica ou de qualquer outra coisa. ter uma namorada que nem te trate mal nem te chateie e te ajude a fazer as coisas. chamamos coisas a bens e valores, ao que existe mas poderemos não saber bem nomear. real ou abstrato. encaixarei nessa referência feminina numa casa tão masculina numa transferência milionária entre o ver para o querer? amanhã outra coisa qualquer diferente surgirá porque ninguém é sempre a mesma coisa. e podemos sempre ser mais outras coisas para além daquilo que somos, para além daquilo que achamos que somos. para além daquilo que acham que somos. para além daquilo que fomos. não te esqueças de conjugar os verbos todos, os pretéritos nos futuros. são meia dúzia de translações, mais de 2 mil rotações, como não ficar tonto com tanta volta? mesmo sem a dedicação, a disponibilidade e a entrega de uma primeira viagem continuamos a descobrir um mundo novo de combinações. vais atrás das competências físicas dos teus irmãos, uma referência constante nos teus dias. superas-te como se carregasses em cima mais meia dúzia de anos. tens muita gente para te amparar a queda e também muita gente a chutar opiniões aos desafios que te pertencem por isso temos aproveitado aqueles bocadinhos de filho único em que quase jantas sozinho num exercício de exclusividade total. aí redimo me de uma espécie de incompetência que passei a exercer por haver três canais com necessidades de sintonização em frequências diferentes.

parabens x boy

23 de junho de 2022

eleven-eleve












queria metade da tua confiança. uma competência tão sedutora que se teoriza como alcançá-la. foi uma das caraterísticas reconhecidas desde cedo na tua ascendência. quando eras metade esbarrávamos porque tinhas quereres com letra maiúscula. hoje sabes ir procurar palavras para fazer fusão, essa beleza de palavra que traduz a passagem do estado sólido para o estado líquido. isso funde-nos numa relação sólida que tem tanta abstração como o estado gasoso da matéria. continuas a nossa abelha a espalhar pólen onde passa, a espicaçar a envolvente próxima e a fazer tremer quem não aceita a natureza do que nos é intrínseco. às vezes falhamos porque te castramos impulsos do que te vem das entranhas mas sabemos lá no fundo que o problema está em nós. não sabemos bem que questões vais ter para resolver muito lá para a frente. daquelas internas e que se guardam nas profundezas. sabemos contudo que enquanto saltitares e fores vendo o mundo a fazer o pino vais sacudindo as questões que te vão caindo em cima. tens certeza das tuas dúvidas. tens certeza daquilo que ainda vais conquistar. conquistas até imensa arte abstrata que imprimes em ti cada vez que existem molhos e sumos coloridos para te nutrir. és uma explosão de vida. extravasas. és a extroversão inata. e para comemorar haja bolo de manga da prima n.

8 de agosto de 2021

thoughts to remind











i am not here for your understanding of who i am. i am here for your understanding of who you are. i am your mirror. how you feel about me, what you see in me, the thoughts that arise from your encounter of me, the judgements you hold about me are all reflections of you. they have nothing to do with me. 

emily maroutian

22 de setembro de 2020

memórias de verão




estão a construir as suas memórias de verão com os filhos de amigos a quem chamam primos, a extensão das primas e primos em vários graus no papel e em primeiro grau na relação. há uma rede de espaços e contactos recorrente que as sedimenta e que as enche de confetis. usamos a envolvente e os recursos mais à mão, encaixamo-los em rotinas fora de rotinas recorrentes.  alimentamos o levar e o trazer, o ir e o vir, há sempre no backstage pelo menos um adulto a fazer a manutenção da combinação de várias idades e a promover o estar. têm a escola do primeiro ciclo a uni-los a todos, com cores e memórias de rotinas que reconhecem e será sempre um tema mesmo quando no desfasamento do crescimento se dispersarem por ai. hão de voltar. hão de se voltar a reunir em encontros e desencontros e confrontos de ser e estar. acabou o verão mas enquanto a metereologia entra em modo montanha russa e nos vier brindar com dias de picos amistosos faremos por encher ainda mais o saco. há dias que já quase se sente o natal a chegar, outros em que sentimos a água mais amena que nunca. todos os dias saem novos números a parecer um totoloto recorrente mas vemos poucos noticiários e alheamo-nos um pouco do bombardeamento de um tema com o qual temos de conviver.
 

20 de setembro de 2020

vida em azul





 












terão uma infância exposta a muita informação. às vezes também é preciso esvaziar. não ir, não ver, não fazer. só estar. parar. ficar. reduzir os estímulos, as coisas, as viagens, as exposições que lhes inundam as memórias. parar. deixar as memórias serem arrumadas nas gavetas. mas neste balanço mareado que tem sido a nossa vida ter certeza que as vivências que carregam os constrói únicos e singulares na sua / nossa história. 

19 de setembro de 2020

o poder da nossa paz outdoor





engolir milhões de vezes as palavras. permanecer sempre entre os opostos como se fossem sempre verdade, a afirmação e a sua negação. há sempre um lado B, um outro lado da margem do mesmo rio que corre vivo. ser morno, impulsivo e tranquilo e médio. aceitar a pandemia, aceitar as orientações. aceitar ainda com mais força que vivam sem máscaras. aceitar que brinquem em liberdade. aceitar que se constipem. aceitar que se aproximem. aceitar que convivam. aceitar que adoeçam. aceitar que cresçam. aceitar que há opções muito pouco razoáveis. 




 

18 de setembro de 2020

2020 da sorte que temos

 


temos sorte. no meio do caos. temos sorte. no meio do incerto. 2020 é o ano mágico. a ficar nas memórias deles. a ficar nas páginas dos livros. temos sorte porque é nos desafios que mais crescemos. temos sorte porque eles vão ganhar com a vida não ser sempre facilitada. temos sorte porque as experiências com desafios nos reportam mais consistência. temos sorte. mais sorte temos com as escolas deles. as medidas não nos assustaram no pré escolar. estão centradas num compromisso entre ser criança e adaptação a um vírus novo, as medidas estão a ser razoáveis no primeiro ciclo, há bola e corrida e ar livre. o segundo ciclo avança hoje e a apresentação da diretora de turma numa sala com pais arrancou com tudo menos só covid. acabou nas contingências desta vida mas foi mais para além disso. toda a comunidade a apalpar terrenos, tudo a encarar desafios. tudo a minimizar impactos foi o que sentimos. havia silêncio entre os pais e pouca agitação e é essa a mensagem que nos tem de pairar no sótão. quando a vida nos põe questões e desafios, temos sorte. porque a vida não é uma linha reta perfeita e quanto mais curvas mais ginástica mental ganhamos para a viver. temos sorte porque esta geração vai ganhar vida, profundidade, vivências marcantes que lhes aportarão material valioso. temos sorte porque o covid nos pôs a pensar mais e em mais coisas. temos sorte porque tomamos consciência do quão valioso são coisas pequenas. temos sorte porque nos lembramos que eles têm de brincar. temos sorte porque voltamos a por questões, a por coisas em perspetiva, a envolvermo-nos na vida. não nos queixemos. temos sorte. temos mesmo muita sorte porque eles vão poder escrever nos seus livros de memórias histórias de desafios que não se vão tornar A sua vida mas um episódio dela. a sorte que nós temos. a sorte que eles têm.

15 de setembro de 2020

distanciamento mental














esta natureza que carrego continua a recusar-se a entrar numa espécie de histeria coletiva. há desafios gigantes em contaminações próximas mas há cá dentro uma espécie de repulsa em reconhecer o não óbvio. atrai-me, atraiu sempre, o distanciamento social, viva às praias vazias de outono, atrai-me o ninho com os meus se o balançar com inputs muito esporádicos de convívios selecionados a dedo. atrai-me a contenção, atrai-me o convívio faccionado, atrai-me o contacto distanciado, atrai-me o silencio. mas não vivo em calmia se estas crianças não brincarem em liberdade e não casarem o corpo e a mente. se não conviverem com os pares, se não desenvolverem interação mesmo que reduzam substancialmente o número de contactos. que este ano nos traga nada mais que viroses ligeiras e a prova de que o mundo continua igual.

14 de setembro de 2020

"pontapé e fé em deus"














é o pontapé de saída. inicio de um estranho ano letivo. a dinâmica muda. retirada de ecrãs com reclamações que se contagiam. ao segundo dia o miolo da nossa vida brindou-nos com mozart no piano.  numa espécie celebração do madrugar. o mini tentava cantar o som que lhes lancei já que agora a magia da roda das canções na escola está extinta por causa dos covids. a escola a implementar razoabilidade. a vida a recomeçar no balanço delicioso das rotinas que nos orientam os dias e nos ritmam os convívios. daqui a uns meses desejaremos a anarquia de estarmos juntos, o ir daqui para fora, o estar de calções e uma tshirt. nada de novo. é sempre neste balanço dos opostos que nos alimentamos. pré escolar. primeiro ciclo. segundo ciclo. tudo a espalhar-se em novos desafios. e esta retaguarda que nos sabe a sobremesa. farta de gel desinfetante e do espírito ameaçador de noticias superficiais. farta de números sem historia e de previsões do futuro próximo. 

3 de setembro de 2020

triangulações



não é preciso pedir mais nada que esta triangulação amparada.  não é preciso pedir mais nada que o suporte mútuo eterno. nada mais que uma mini equipa de retaguarda. nada mais que a consistência da convivência que o suportará.  que atravessam a vida numa triangulação independente. seguros do suporte do equilíbrio.


14 de agosto de 2020

deus das pequenas coisas














Deus das pequenas coisas. O caminho que se faz caminhando.  Das aldeias que as formigas constroem. Da natureza construtora sem intenções. Da espontaneidade da vida selvagem. Das coisas sem importância. Da vida devagar. Da natureza das coisas.


8 de julho de 2020

alimentar a alma

é deste silêncio que preciso para me focar, para me reconetar e para me dar. é no silêncio que me alimento e que me alinho. preciso do vazio num processo de alternância para me equilibrar. preciso de estar comigo para poder estar depois com os meus outros. hoje finalmente voltei a ter algum espaço mental. sem fugas. os meninos estão distribuídos, a saudade presente. saudade é um sentimento que me traz alimento. as rotinas são bolachas, o ir e vir, a fruta, o vazio a água para nutrir. sou o primeiro veículo dos programas que lhes constroem memórias mas este vazio, este silêncio alinha-me. este precisar de estar eu comigo nesta ebulição boa que os dias me dão. eles são o sumo que bebo na rotina dos dias. mas vê-los ir para depois voltar aquece-me a alma. 

7 de julho de 2020

meia dezena our boys

para lá dos minutos e das horas contadas estejam sempre lá uns para os outros. que sejam sempre uns dos outros. que contem sempre os dias das memórias uns aos outros. que tenham sempre o que vos une no baú do que vos pertence uns aos outros. que cresçam uns com os outros. que se amparem uns aos outros. que se protejam uns aos outros. há uma linha que vos une. agarrem-na. mantenham os nós. façam dela corda que vos segura na escalada. que vos ampara na queda. que vos amortece as tristezas. estejam uns para os outros. até ao dia em que a vossa ascendência não esteja. será uns nos outros que ela permanecerá.

23 de junho de 2020

9 meses dentro 9 anos de fora



és a nossa pulga elétrica, a nossa abelha de zumbido fácil, o nosso pica pau, o nosso recheio sempre a transbordar, o nosso pincha. a nossa melhor tradução do que significa ensino à distância. zero. sem conexão não há educação, sem presença temos uma espécie de informação no ar a divagar, sem estímulo, sem desafio, sem comparação, sem pares, sem recreio, sem dentro e fora, não há COM. é tudo sem. fizeste 9 anos em pleno desconfinamento. escolheste 3 amigos que composemos com as nossas 3 amigas e mais 3 primos a festa foi perfeita. uma quinta da conceição quase só para nós. o tempo que nos demos, o improviso, a bola nos pés que tanto ansiavas. as corridas, o ar puro, o estar ali. o teu sorriso de satisfação. guarda sempre essa persistência que nos quase enlouquece, guarda sempre essa certeza dos quereres, guarda sempre essa energia sem fim, essa alegria, guarda sempre essa vontade de interação que te invade o corpo e usa-a no teu caminho, nas melhores escolhas, nas melhores experimentações. embora nos queixemos que por vezes nos canse é ela que te faz único e os outros, os outros já existem. queremos-te assim em versão original e única.

3 de junho de 2020

confinamento rebelde-desconfinamento confinado



























farta de formulários, de diretivas, de planos de contingência. farta de confinamento e desconfinamento. vivia em permanente confinamento imperfeito e em permanente desconfinamento confinado. gosto das praias vazias, de andar contra corrente. gosto da praia fora da época e da praia que ninguém quer dentro da época. gosto de ir onde o ambiente é selecionado por critérios  opostos ao que a expressão define. a quarentena não custa nos moldes globais, custam as mesmas coisas de sempre , não lhes dar mais tempo vazio de paredes e de objetos e de eletrodomésticos e gadgets e ecrãs. a quarentena trouxe uma vontade extemporânea uma vez que o tempo avança a desfavor, ter um bocadinho de terra nos pés 2/3 na semana. de resto confirma-se que o aglomerado que nos invade tem aspetos positivos na socialização que precisam para crescer. há um mundo estranho na envolvente mais infantil que nos espera e que apanha o crucial primeiro triénio do pequeno. até aqui nada de novo, cresce entre irmãos que nem sempre o ensinam a brincar. mas um dia, vai chegar o dia em que tratará por tu o afastamento que ainda não conhece bem. mas foram mais desafios que não nos largaram desde sempre e apesar do agridoce são o que recheia a vida na sua melhor versão. as contra correntes, as estranhas, os desafios. 

1 de junho de 2020

ausente e omnipresente

























estou atrás da câmara. estou em trânsito. a levá-los, a trazê-los. estou a segurar toalhas e merendas e casacos e tpc's. estou ausente, quase omnipresente. invisível, sempre audível. a montar memórias e encontros e contactos e a dar-lhes pessoas. estou cá atrás a vê-los mergulhar, a vê-los crescer. estou cá atrás quase sempre a assistir numa plateia improvisada sempre a tentar recusar o ímpeto de os encher com mais objetos e a navegar em permanência em programas que impliquem sempre ir. fazer caminhos. construir memórias. montar experiências. lançar-lhes tapetes de muitas texturas. podia deixar fluir porque o que for é de qualquer maneira mas esta talvez seja uma espécie de missão. sou ausente e omnipresente e pouco consistente. sou do ir e do vir.

30 de abril de 2020

14 a caminho do quarteirão contas bem feitas





sou feliz a fazer "estrada" contigo, seja qual for o caminho por onde seguimos. sou feliz por saber que te tenho. venha o que vier. haja o que houver. sou feliz no teu espírito pró ativo no meu coração passivo. sou feliz quando nos vejo a fazer tchim tchim num restaurante em strasbourg numa outra vida, quase miúdos, a roçar apenas a maioridade. sou feliz a ver-nos aqui desde esse dia, a ver a vida a ser dura e a ser leve, muitas vezes cheia, muitas vezes quase a transbordar, a trazer tudo o que precisamos, mesmo que nem sempre seja o que mais queremos. nós, um tu, um eu. no meio de tudo o que já vivemos para ser quem somos, nos lugares que preenchemos juntos, nos dias que nos ligamos mais que nunca apesar dos quilómetros aos milhares. nas subidas que fizemos, nos silêncios que nos uniram.  uma história cheia de histórias para contar às memórias. vivências em muitas direções a fugir sempre da monotomia e do marasmo. uma vida que recheamos de três vidas em ebulição, que levamos a reboque de como decidimos viver os dias. é o nosso caminho, o nosso percurso, a nossa história, diferente de todas as outras, as que nos precederam, as que nos ladeiam. o mesmo entusiasmo, a mesma paciência para deixar acontecer tudo de novo uma e outra vez como no primeiro dia e como no primeiro beijo perdido lá atrás algures em 1995. sei que o caminho vai quase a meio e vejo-nos a caminhar juntos nos mesmos moldes. a preencher os dias, a vida e a nossa história de mais histórias para contar às memórias. as que partilhamos no nosso núcleo, o que construímos, são as que devemos sempre sublinhar no texto, as que devemos colocar a bold, e repetir em voz alta como se lêssemos um livro com a voracidade de descobrir o capítulo seguinte. temos uma lista infindável de quereres e a calma e a tranquilidade de saber que a faremos lado a lado. saibamos manter a paciência e a ambição equilibradas na balança enquanto mantemos a aceitação em níveis de equilíbrio normais.
sou completamente apaixonada pelas nossas memórias e pelo que vivemos juntos em conjunto. sou completamente apaixonada pela primeira pessoa do plural que construímos ao longo dos anos, desde o primeiro dia do resto da nossa vida. temos na boca o sabor agridoce das despedidas, dos regressos, das esperas, do lá e do cá. sabemos de cor os dias de ausência. sabemos de cor os dias de presença. sabemos da ginástica, das cambalhotas, das piruetas e dos saltos em altura. sabemos da imperfeição da vida. sabe-mo-nos perfeitos um para o outro aqui, agora, ontem e esperamos que amanhã. 
às vezes temos de ser pacientes para esperar que a vida faça o que faz melhor, dar voltas. juntamos retalhos anarquica e de forma imperfeita para a manta que contará a história da nossa vida. parabéns melhor amigo de sempre com A de amor.

27 de março de 2020

QUARENTENA DÉCIMO QUINTO DIA

























Preparemos o aniversário da nossa quarentona do coração em pleno auge de quarentena. Se calhar é só o início. O M dedicou-se de alma e coração e todos os passos, como é seu costume, foram de entrega. minúcia, paciência e  escolha dedicada de todos os pormenores. há muito que não precisa de orientação, caminha sozinho nestes percursos hand made, com prazer. está pronto e fica aqui em primeira mão porque este espaço estava há muito adormecido e abandonado. não deve já estar ninguém do outro lado e o objetivo nunca foi aumentar partilhas mas registar os dias. nesta família talvez escasseiam mais pastilhas para a máquina da loiça do que papel higiénico. Avançamos para a terceira semana a todo o vapor e não usamos ainda supermercados. Ontem o pai fez um maravilhoso pão.

26 de março de 2020

QUARENTENA DÉCIMO QUARTO DIA
























segunda semana a terminar. dizem que abrimos a fase de mitigação. já ninguém controla quem contamina quem, onde, como e quando avança o contágio. o M voltou a ter dificuldades a adormecer, o V rói mais as unhas do que nunca, o X anda em piruetas no meio do que o envolve a crescer. há um feliz por fazer escola em casa, um a repensar que isto da escola em casa afinal tem o seu lado negativo e outro com os dois pratos da balança sempre em balanço porque quando se é pequenino se criam empatias com quem nos cuida durante algumas horas por dia. os dias tem tido mais ritmo mas muito menos sumo de partilha, afinal estamos sempre lá, na vida uns dos outros. tudo em suspenso. sugam-nos até ao limite e ficamos sempre a perder 3-2.

25 de março de 2020

QUARENTENA DÉCIMO TERCEIRO DIA
























ontem tentamos estruturar melhor os trabalhos. não correu mal. vamos cumprir os exercícios tradicionais mas cruzaremos com a introdução de novos paradigmas de estudo. somos capazes, nem todas as famílias o serão, aproveitemos as trocas de aprendizagens entre todos e entre as ferramentas disponíveis de saber, de cultura, de materiais, de criatividade e de tudo o mais que temos ao dispor. escola e família com oportunidade de se meterem na vida uma da outra como nunca e, numa família numerosa, um imperativo. os cumprimentos laborais andam no mesmo nível de toda a gestão e de todas as dimensões da vida. o tele trabalho fora de horas laborais. voltei aqui mas ainda não consegui voltar a uma série de outras coisas em que o eu esteja num outro nível. há mais eles, e os outros. a vida a acontecer e a mandar. há uma lista mental de ideias. um milhão de intenções mas domar meia dezena de seres vivos com vontades próprias e mil emoções à mistura é a mais exigente tarefa dos dias. ainda há chocolate, o mar parece um lago, o sol brilha, a vida lá fora suspensa como se o sol se tivesse apagado da pele. décimo quarto dia, permiti-mo-nos sair. muniram-se de bicicleta, skate e trotinete. a marginal tem fitas condicionar o estacionamento. esticaram-se na areia o sol deu-lhes alguns beijinhos na pele, não o suficiente para trazerem em vez de areia vitamina D. mas a areia é matéria moldável e o X parou a senti-la. a polícia interpelou-nos. as ordens são manter a circulação. não lhe dissemos que não tínhamos feito nenhuma saída há 14 dias nem para qualquer ida ao supermercado, temos o nosso próprio bunker onde repescamos munições. ainda há chocolate, o mar parece um lago, o sol brilha, a vida lá fora suspensa como se o sol se tivesse apagado da pele.

24 de março de 2020

QUARENTENA DÉCIMO SEGUNDO DIA
























andamos às apalpadelas a tentar construir rotinas que se mantém desrotinadas ao sabor de espetos que nos lançam de vários lados. lá fora está sol e, apesar da amplitude espacial, ainda não pacifiquei a ideia de que possamos passear cães e não filhos. entraremos na segunda semana adentro num processo de desaceleração relativa por não querer que se entreguem  permanentemente a ecrãs. as férias serão uma espécie de dias em contínuo, espero, com novos ritmos encontrados neste novo registo. o m pedia várias vezes ausências da face aborrecida da escola, matérias repetitivas e pouco estimulantes mas, agora em modo livre, ainda não se libertou num voo solto pela criatividade. o v precisa de ar, pede-o muitas vezes e gosta bastante da vida com ecrãs mas a sua costela mais pragmática funciona bem nas aulas de piano à distância. o x precisa de inputs para largar a caixa que carrega vezes demais ao colo que já manuseia com destreza e de forma autónoma, um perigo. quando lhe abrimos o mundo obviamente adere mas precisa que o conduzam nessa descoberta porque se habituou a caminhar entre muita gente a precisar de coisas na sua estrutura familiar. ontem quando assistiu à canção dos bons dias da sua professora, sentiu-se intimidade e estranho. é o que menos percebe do que se passa. o que quer que se passe não tem dias contados e 2020 irá ser sem dúvida um dos anos mais marcantes da história desta geração. tocaremos esta música com os instrumentos disponíveis a ritmos antagónicos e nem sempre em composições perfeitas. um dia de cada vez. uma hora de cada vez, cada minuto, cada segundo a apalpar um futuro incerto.

23 de março de 2020

QUARENTENA DÉCIMO PRIMEIRO DIA










acabamos o projeto a que nos propomos. usando a matéria de estudo do meio de terceiro ano e envolver todos. os conceitos estão apreendidos e sem fichas. desenhamos animais usando sombras e assistimos aos vídeos enviados pelas professoras dos mais pequenos.  li-lhes dois capítulos do diário de anne frank enquanto se esticaram junto da janela numa espécie de banhos de bacia em que raios de sol a substituem. almoçamos as sobras de domingo, um frango caseiro com massa. mante-mo-nos a usar os recursos disponíveis e hoje fizemos chapati com chocolate para o lanche, uma bela oportunidade para o pequeno esticar a massa e espalhar farinha por todos os lados. o v aspirou a sala mas ha muitas tarefas por fazer. o pequeno tem usado tempo de mais com ecrã mas o tempo de ecrãs é sempre demais seja ele qual for. relaxo, desvalorizo.

22 de março de 2020

QUARENTENA DÉCIMO DIA
























fim de semana entregues a ecrãs. quebra estratégica. mete-mo-nos todos no carro com abandono do habitáculo apenas e só por um adulto a deixar uma caixa de perecíveis na bisavó de noventa anos. quando liguei a dar notícia da caixa foi uma espécie de de natal. chamou-me anjo. outra paragem estratégica para o ÁFRICA MINHA, extenso para aguentar o V e o X. acrescentamos uma espécie de ginástica no arrancar do fim de semana. meia hora de leitura no aconchego de uns raios de sol que entravam pela janela, este nível de jogo acontece quase sempre na base da negociação e / ou imposição mas que seja. muito pouco tele trabalho batido entre um frango caseiro e um crumble. de manha fiz alongamentos e dancei em simultâneo enquanto conversava com a desarrumação da cozinha. aproveitamos recursos, tudo é gerido ao detalhe e a cozinha tornou-se um laboratório permanente, não é nova a gestão da dinâmica de, no mínimo, quatro refeições por dia. o nosso âmago acusa tensão e o pequenino baralhação com grau elevado de presença parental. tentamos ingerir doses pequenas de noticiários para que o tema e as palavras repetidas à exaustão não lhes martelem na cabeça e façam uma espécie de voo rasante temporário ao tema. as alterações de rotina, a presença de muita gestão familiar e os inputs externos são matéria suficiente para que sintam que o momento será marcante na nossa história de vida. o pequeno disse que gostava muito da professora, acusa sinais de saudades, mas gosta muito do pai e da mãe. começará a segunda semana de desafios. ainda não estamos em condições de alterar o paradigma escolar e laboral mas caminhamos a passos largos. em uma semana entram de "férias" seja lá o que isso for e tenha lá que sentido tiver. o diário de anne frank, agora que a diretora de turma do M lhes impôs 4 linhas por dia num diário pessoal, faz todo o sentido. a introduzir fora do horário noturno para não lhes moldar os sonhos.

19 de março de 2020

QUARENTENA NONO DIA


























Abrir as portadas, as janelas, vestir, passo a vida em ordens de comando. para que nos vamos vestir se vamos ficar em casa. é o nono dia. já não sei em que dia fizemos o que. tentei gerir o caos e propus um projeto que os envolvesse a todos, plasticina caseira. um modelo 3d com matéria de estudo do meio de terceiro ano. rio, afluente, planalto, montanha, encosta, ilha, cabo, planície, etc. entretive o pequeno a congelar mamíferos, repteis e peixes em separado.

18 de março de 2020

QUARENTENA - QUINTO DIA
























Consegui trabalhar meia hora entre sopas e coisas. Chamam mãe muitas vezes e a partir de muitos sítios. Não os tenho pressionado com trabalho escolar . Andamos entre uma espécie de férias com uma ficha atrás. Não há mãos a medir para tanta gestão de grupos what’s up, emails da escola. moddle, etc . Nunca estivemos tão agarrados a máquinas e longe da vida. Passamos a vida na troca vazia . Descobri que a minha visão passou a outro nível a quarentena revelou a quarentona em mim, isso e a vista cansada. começo a desfocar a vida, esta vida. Há uma cárie e um lábio aberto. 5 dias em casa e tenho inveja de quem vai passear o cão. Porque sinto que devia ir passear o filhos. Dar lhes ar que também é uma necessidade básica . Vivo em processo pingue-pongue entre a versão hipocondríaca e a versão cavaleiro sem saber bem onde me posicionar . Eles andam para aqui meios perdidos , meios desorientados , a querer dar se à inércia . Não é um mundo novo, tenho dejá vues constantes, já passei por processo semelhante num longínquo inverno. Eram dois e ninguém me impedia de sair. Mas a gestão de necessidades e rotinas de duas crianças entregues unicamente a mim traz-me constantemente memórias. 

o interior do miolo do que fica no meio de tudo



usam as mesmas mochilas desde sempre, não concebemos uma a cada ano. gerimos a otimização de tudo incluindo roupas e rotatividades. apuramos técnicas de fazer malas e arrumar roupa que já não largamos. fazemos rolinhos para tudo que encaixam nas paletas que construímos. mas há um elemento desligado, desfocado, não pede mundos nem fundos, aproveita os materiais até se reduzirem ao centímetro mas deixa tudo num estado lastimoso. há na natureza naturezas diferentes.

eu vista por mim

eu vista por mim
novembro1982